Histeroscopia ambulatorial

Publicado em 14/08/2025

Dr. Mauro Bibancos

A histeroscopia ambulatorial é um exame minimamente invasivo que possibilita a visualização direta do interior do útero, por meio de uma microcâmera acoplada a um instrumento chamado histeroscópio. O procedimento é realizado em consultório, sem necessidade de anestesia geral.

Há também a modalidade da histeroscopia cirúrgica, que é realizada em ambiente hospitalar, com todos os recursos cirúrgicos necessários. Essa técnica é indicada para o tratamento de várias doenças que afetam o útero.

Desde que foi desenvolvida, a histeroscopia passou por importantes avanços técnicos. Tradicionalmente, era restrita ao centro cirúrgico, com anestesia e internação, mas a chegada dos histeroscópios de menor calibre e dos sistemas de distensão possibilitou sua aplicação em ambiente ambulatorial — com segurança, tolerabilidade e rápida recuperação da paciente.

A histeroscopia ambulatorial revolucionou a prática ginecológica ao unir diagnóstico preciso e possibilidade de tratamento das lesões menores em um único procedimento — abordagem “see & treat” (ver e tratar).

Quando a histeroscopia ambulatorial pode ser indicada?

Embora não seja um exame de indicação rotineira, a histeroscopia ambulatorial pode ser solicitada diante de queixas de sintomas ginecológicos e durante a investigação da infertilidade.

Submeter a paciente a um procedimento de histeroscopia ambulatorial sem desconfiar de alterações com um exame prévio não é uma prática comum. Por isso, primeiramente, podem ser realizados outras técnicas diagnósticas mais simples, como a ultrassonografia pélvica e a histerossalpingografia.

A histeroscopia ambulatorial pode ser indicada nas seguintes situações:

  • suspeita de lesões intrauterinas em exames de imagem prévios;
  • investigação de sangramento uterino anormal;
  • avaliação de sangramento após a menopausa; 
  • investigação da infertilidade;
  • falhas repetidas em ciclos de fertilização in vitro (FIV);
  • avaliação da cavidade uterina antes da transferência de embriões na FIV;
  • remoção de dispositivo intrauterino (DIU), quando o fio não está acessível no exame ginecológico convencional;
  • biópsia dirigida do endométrio, em casos de suspeita de endometrite, hiperplasia endometrial ou câncer.

A histeroscopia não deve ser realizada em caso de gravidez confirmada ou suspeita, nem durante infecções ginecológicas ativas.

O que a histeroscopia ambulatorial pode diagnosticar?

Com a visualização direta da cavidade uterina, a histeroscopia ambulatorial permite identificar diversas alterações que podem causar sintomas ginecológicos, dificultar a implantação embrionária ou aumentar o risco de complicações obstétricas.

Entre os diagnósticos possíveis, destacam-se: 

  • pólipos endometriais — crescimentos anormais no endométrio, tecido que reveste o útero por dentro;
  • mioma submucoso — tumor benigno que se origina na camada medial da parede uterina (miométrio) e cresce invadindo a cavidade endometrial;
  • aderências uterinas (sinequias) e síndrome de Asherman — faixas de tecido cicatricial que obstruem o espaço interno do útero;
  • anomalias congênitas, como o septo uterino, caracterizado por uma parede de tecido que divide a cavidade do útero;
  • adenomiose — inflamação no miométrio decorrente da invasão de células do endométrio;
  • endometrite — doença inflamatória crônica, resultante de infecções ou procedimentos intrauterinos, que pode ser confirmada com a biópsia endometrial.

Todas as condições listadas alteram as características do útero, tornando o ambiente menos favorável para a gravidez, o que pode acarretar falha de implantação do embrião, abortamento ou outras intercorrências gestacionais.

Como é o procedimento da histeroscopia ambulatorial?

A histeroscopia ambulatorial é iniciada com o acolhimento e o preparo da paciente. É importante que a mulher confie no médico e se sinta confortável, pois isso ajuda a reduzir a ansiedade e facilitar o procedimento.

A paciente é posicionada em posição ginecológica e um espéculo é utilizado para melhorar a visualização do colo uterino, mas em alguns casos a técnica é realizada sem espéculo ou pinça, o que torna o procedimento ainda mais confortável.

Em seguida, realiza-se a introdução do histeroscópio. O tubo fino e flexível, com câmera em sua extremidade, é inserido pelo canal vaginal até o interior do útero. Os histeroscópios modernos têm diâmetro inferior a 3 mm, o que dispensa dilatação cervical e reduz o desconforto.

Para que a imagem seja clara, é feita a distensão da cavidade uterina com solução salina estéril. Então, o médico acompanha as imagens do interior do útero em tempo real em um monitor de vídeo.

Com a avaliação detalhada da cavidade uterina, as alterações são observadas e diagnosticadas. Além disso, as menores lesões, se forem tratáveis no momento, como pequenos pólipos e miomas, são removidas, sem a necessidade de agendar uma nova intervenção.

Após o procedimento, a paciente pode sentir uma leve cólica ou apresentar sangramento discreto, mas geralmente não são motivos de preocupação, pois esses efeitos são passageiros. Também não há necessidade de repouso prolongado. 

A histeroscopia ambulatorial apresenta alta eficácia diagnóstica e baixo índice de complicações, sendo considerada padrão ouro para a avaliação da cavidade uterina. É, portanto, um importante avanço da ginecologia moderna.

A aplicabilidade da histeroscopia ambulatorial é ampla na clínica ginecológica, sendo especialmente relevante na investigação da infertilidade feminina e no preparo para a FIV. Trata-se, em resumo, de um exame simples, seguro e bem tolerado, que pode ajudar a diagnosticar e, em muitos casos, tratar alterações que interferem na qualidade de vida da mulher ou dificultam a gestação.

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